
Tinha 85 anos e foi das grandes jornalistas do DN. Deixou uma vasta carreira profissional. E uma compilação de conversas com o filósofo Agostinho da Silva que foi estudada na universidade.
Nascida em 1940 em Vila Nova de Gaia, iniciou a carreira profissional em 1960, no Porto, no Jornal Feminino. Em 1966 ingressou na redação do Diário de Lisboa e em 1972 fez parte da equipa do República. Três anos depois Antónia de Sousa foi cofundadora do jornal A Luta. A entrada para no Diário de Notícias deu-se em 1979. No currículo tem ainda passagens pelas revistas Flama e Modas e Bordados.
Além do jornalismo - tornou-se das primeiras mulheres a fazer parte de uma redação -, foi presidente da Casa de Imprensa (em 1975 e 1976) e exerceu funções no então Conselho Técnico e de Disciplina do Sindicato dos Jornalistas.
José António Santos, que trabalhou com Antónia de Sousa na secção de Sociedade, da qual era editor, recorda um dos seus últimos trabalhos no DN e que ainda hoje merece destaque. “Enquanto jornalista, são célebres os seus trabalhos publicados neste jornal, sobre Agostinho de Silva, peças de investigação e estudo na Faculdade de Letras de Lisboa”, sublinha.
Estas conversas decorreram entre 1986 e 1987 e deram origem ao livro O Império Acabou. E Agora?. Um trabalho que, segundo José António Santos, foi, e é, matéria de estudo na universidade.
Uma referência no jornalismo que é muito anterior à publicação destes diálogos inéditos, como relembra o diretor-adjunto Leonídio Paulo Ferreira. “Quando entrei pela primeira vez do DN, ainda no edifício histórico na avenida da Liberdade, descobri uma redação enorme, mais de 100 jornalistas. Antónia de Sousa, percebi rapidamente, era uma das referências do jornal. Recordo que, entre os temas que tratava, escrevia sobre a condição feminina. Aliás, à conversa com uma jornalista que também estava a começar a carreira mais ou menos na mesma data, confirmei ser essa uma área muito acarinhada pela Antónia de Sousa. Pertencia a uma geração de grandes repórteres que marcou muito o jornal, e que ajudou ao crescimento dos mais novos, criando um espírito DN”, diz Leonídio Paulo Ferreira, hoje diretor adjunto.
Ao longo da sua carreira, António de Sousa - que publicou, por exemplo, entrevistas com o agora Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin ou o filósofo português António Quadros – foi uma defensora acérrima dos direitos das mulheres, tendo sido autora, entre 1974 e 1976 com Maria Antónia Palla, de um programa quinzenal na RTP chamado Nome de Mulher, onde foram registados momentos representativos da luta das mulheres no período pós-25 de Abril. Assinou ainda na RTP um conjunto de 12 programas sob o título Mulher. Publicou também o ensaio O Mercado de Trabalho e a Mulher, a biografia As mulheres na Vida de Balzac e o livro Os Portais do Tempo.
O velório terá lugar esta sexta-feira a partir das 16h30, na Basílica da Estrela. O funeral será no sábado às 10h00, seguindo para o crematório do cemitério dos Olivais, cumprindo a vontade de Antónia de Sousa.
0 Comentários